quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Arte no ensino público em Brotas

“Liberdade de expressão”. Essa é a frase mais utilizada pelos jovens talentos quando querem mostrar que seus desenhos feitos com grafite também são uma forma de arte. O quadro das disciplinas necessárias à formação dos jovens que estudam na rede pública está cada vez mais precário e com o avanço da tecnologia essa situação se agrava. Embora ainda haja uma preocupação por parte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) e de algumas instituições para que a cultura não caia no esquecimento, ainda persiste na maioria das escolas a visão de que a arte é apenas uma atividade desvinculada do currículo, com a função de ser a “hora da bagunça” ou o momento de distração, servindo apenas para enfeite da escola em dias de festa.Em seu artigo “O ensino da arte na era da tecnologia digital”, publicado no site <http://twiki.im.ufba.br/, a estudante Urânia Maia revelou que a Educação Artística passou a ser considerada como componente curricular obrigatório no ensino fundamental e médio (da 5ª série do 1º grau à 3ª série do 2º grau) desde 1971 com a entrada em vigor da lei 5.962/71, em todas as escolas do país. Mas somente com a nova LDB (Lei 9.394/96) é que a arte passa a ser obrigatória nos diversos níveis da educação básica dos estudantes brasileiros, promovendo o desenvolvimento cultural dos alunos.

Institucional

Localizados no bairro de Brotas, em Salvador, o Colégio Municipal Joir Brasileiro e o Colégio Estadual Luiz Viana oferecem aulas de Educação Artística para seus alunos conforme a lei estabelecida. No entanto, pode-se perceber a precariedade do ensino quanto à integração dos alunos com a cultura e o descaso do governo. Salas de aulas quase vazias, carteiras rabiscadas, paredes sujas, alunos em sua maioria desatentos, professores ministrando as aulas sem nenhum tipo de estrutura. Essa é a realidade do Colégio Municipal Joir Brasileiro, que apesar de ter professores de Educação Artística não está oferecendo no momento nenhuma atividade cultural para desenvolver as habilidades artísticas de seus alunos.A estudante Aline Souza, 17 anos, da 8ª série, diz que se sente prejudicada, pois adora desenhar, mas não tem nenhum tipo de estímulo da escola para expor seus trabalhos e lhe oferecer recursos necessários, como aulas mais didáticas. “Uma vez ou outra a professora traz para sala de aula materiais reciclados para trabalhar, mas não me interessa muito”. Aline pretende fazer vestibular para Desenho Industrial e prosseguir aprimorando o seu dom artístico.Em conversa telefônica, a vice-diretora do Colégio Estadual Luis Viana Rosangela Dias informou que, devido ao colégio ter passado por mudanças de direção, ainda não foram definidos os trabalhos disciplinares desse ano para os alunos, mas que essa tarefa será definida pelos professores no decorrer da próxima semana. A professora Maria José acrescentou que um dos trabalhos que vêm sendo realizados por eles há bastante tempo é o Fest Física, que ocorre sempre no final do ano e que, em 2007 produzirá a sua IX edição. O projeto foi idealizado pelo professor de física, integrado a outras disciplinas, onde todos os alunos do ensino médio se reúnem e utilizam da criatividade para apresentar suas pesquisas científicas. Eles produzem uma festa com abordagem artística de formas variadas, como a dança, a música, a gastronomia e as artes plásticas, fazendo com que o aluno tenha um olhar abrangente sobre a arte. A professora esclareceu também que a avaliação é feita junto com os alunos, para que eles possam reconhecer o próprio crescimento, as qualidades do trabalho e, também, suas "falhas", como faltas, atrasos ou pouca dedicação ao trabalho.No Fest Física de 2005, os alunos 1° ano, H, vespertino, tiveram o cuidado de trabalhar todos os detalhes. A aluna Maria Santana, que participou da edição 2006, comentou que foi um dos melhores trabalhos que ela realizou. A sua turma usou materiais reciclados para produzir lembranças, usou a pintura corporal num de seus colegas para encenações, além de terem o cuidado de produzir camisas grafitadas com a descrição do evento e nome dos participantes. “É uma forma diferente de aprender, termina sendo divertido e da para gravar mais o assunto”.

Atitude
Mesmo quando a escola não oferece estrutura e oportunidades, os alunos não deixam de desenvolver seus talentos. As camisas utilizadas no Fest Física foram feitas pelo aluno Samuel Santos, que desenha em camisas e às vezes faz do grafite uma forma renda. Outro exemplo é o de Vinicius Costa, ex-aluno do Colégio Estadual Luiz Viana, começou sua paixão pelo grafite aos 11 anos, quando começou a rabiscar. Aos 13 anos começou a pintar, Vinicius vivia fugindo das aulas para graffitar muros da cidade com seus companheiros.Quando o graffit ainda era totalmente proibido, quase foi preso com seus colegas ao serem flagrados pichando os muros de uma escola estadual em Lauro de Freitas “comecei a correr só conseguia pensar no que a minha mãe iria fazer comigo se soubesse daquilo”, lembra rindo. Hoje, aos 17 anos, foi convidado diversas vezes a participar de eventos realizados por alguns empresários para pintar muros e exibir seu talento. Já teve seu trabalho exposto em muros da cidade nos bairros de Brotas, no Engenho Velho de Brotas, Boca do Rio, Portão, Fonte Nova, cedidos pela própria prefeitura a um ano atrás, todos foram assinados com o seu nome artístico “Snep-EF crew”. O evento mais recente ocorreu dia 19 de março de 2007, promovido por um suíço, ele foi chamado para grafitar um muro próximo ao Centro de Convenções, mas devido ao trabalho em um site de publicidade ele teve que abdicar do evento. “Foi um evento monstro, mas não pude ir”, lamenta.(maio de 2007)